05/01/2014

Cléo de Verberena- a primeira cineasta brasileira.

Jacyra Martins da Silveira tinha um sonho. E um sonho tão grande que ela fez de tudo para realizá-lo.Tanto que até mudou seu nome, vendeu suas jóias, suas roupas e sua casa.
O seu sonho era complicado: dirigir um filme.
Na época em que ela se aventurou no mundo do cinema como diretora, ela recebeu certa simpatia, porém hoje em dia muitos poucos sabem seu nome já que a ênfase é sobre Carmen dos Santos e Gilda de Abreu.
Jacyra nasceu em Amparo, São Paulo em 26 de junho de 1909 e idolatrava Greta Garbo.
Sua vida no interior, no entanto, foi bem modesta. Orfã de mãe e pai desde menina , todos esperavam que ela conseguisse um bom casamento com um homem chique e de boa família e por isso foi mandada para a capital de São Paulo aos 15 anos.O motivo secundário era terminar os estudos, já que naquela época as mulheres não eram incentivadas a seguirem uma carreira profissional.
Lá ela realizou em parte os sonhos de todos se casando com um homem com muitas terras chamado César Melani. Sete anos mais velho que Jacyra, Melani vinha de uma família tradicional de fazendeiros, mas antes de seguir com a tradição da família precisava de um diploma superior.Ele então escolheu a Medicina e foi para São Paulo consegui-lo.
A família acreditando em sua seriedade, deu-lhe grande parte de sua herança já que ele agora gerenciava um banco. Ele perde o dinheiro pois o banco foi à falência e começou a tentar realizar várias empreitadas.


Os dois se conhecem em uma festa e Jacyra fica surpresa ao ver que César é um homem bem imaginativo. Jacyra, como qualquer outra mulher daquela época estava aprendendo bordado, tinha lições de francês e praticava piano. E claro, frequentava e muito o cinema.

Greta Garbo-a esquerda- era a maior inspiração de Jacyra (Cléo). E Jacyra frequentemente era comparada a ela.


Jacyra fica encantada com César e assim os dois se casam. No casamento alguém leva uma câmera cinematográfica para filmar o casal. Destino ou não, a brincadeira do convidado marcaria para sempre o destino dos dois.
Muitas vezes Jacyra falava ao marido que conseguiria dirigir um filme e até quem sabe atuar em um. Melani, que sonhava com grandeza concordava com as divagações de Jacyra.
A divagação então se torna realidade. O avô de César falece e deixa uma grande herança para seu neto. Ele então aluga uma casa na Rua Tupi e começa a produtora Épica Filmes.  Ele já começa por cima importando câmeras e equipamentos da França.Para o pequeno filho do casal chamado César, aquilo é muito divertido.
A Épica Filmes por ser novidade chama atenção de todos do círculo cinematográfico do Brasil.E muitos como Tartari e Nacaratto começam a frequentar o estúdio.
Pensando sobre a sonoridade dos nomes das estrelas de Hollywood naquela época, Jacyra e César resolvem mudar seus nomes e torná-los mais atraentes. Jacyra Martins Silveira então vira Cléo de Verberena e César Melani se torna Laes Mac Reni.
Ela então começa a dirigir o primeiro filme de Épica Filmes: O Mistério do Dominó Preto que é lançado em 1930.
O filme é baseado em um livro do escritor Martinho Corrêa e Cléo procurou inúmeras atrizes antes de se escolher para interpretar o papel. Na verdade, em minha opinião já estava premeditado. Ela queria atuar, produzir e dirigir o filme.
A história do filme é sobre um assassinato. Cléo, personagem de Cléo de Verberena, é encontrada morta no armário de Virgílio. Seu amigo Marcos o confronta chamando-o de assassino. Virgílio então diz que a mulher era a esposa do Comendador Fernando Almeida e que os dois mantiveram um romance durante algum tempo.Virgílio disse que antes de morrer ela confessou que fora morta pelo amante Renato. 
Virgílio e Marcos resolvem investigar e passam o caso para o Renato que também é tenente, já que ele diz que não fez aquilo. A noiva do tenente,Alice então admite que foi ela que cometeu o crime e Renato então assume a autoria do crime, mas na verdade o assassino foi o irmão de Alice, Julio.
Conto o final, pois o filme já não existe mais. Não há nenhuma cópia pública que pode ser vista e é realmente uma pena e um desperdício da História Brasileira.
Se alguém quiser ler uma parte do filme, disponibilizo este link da extinta revista Cinearte: http://memoria.bn.br/DOCREADER/DocReader.aspx?bib=162531&PagFis=12745&Pesq=rodolpho%20mayer%20e%20lina%20vera

Elenco do Filme "O Mistério do Dominó Preto".

Laes Reni iria estreiar no próximo filme de Cléo, Melodia da Saudade onde Cléo pretendia introduzir diálogos, já que o Mistério do Dominó Preto era um filme mudo.

O marido de Cléo, Laes, numa cena do filme a direita da foto

Como já mencionei as resenhas dos jornais em geral foram muito promissoras, como esta do Jornal Folha de S.Paulo de janeiro de 1931:




Depois do sucesso de O Mistério do Dominó Preto, e depois de  Melodia da Saudade, Cléo pretendia estrear em Canção Do Destino que infelizmente não se concluiu.
Cléo nos bastidores do filme inacabado Canção do Destino.


Cléo por ser mulher chamava mais atenção do que seu marido nas telas e para o público e assim ganhava mais do que ele. A pressão por conseguir dinheiro para manter o estúdio de pé foi demais para Laes e assim Cléo assumiu tudo.

Em 1932 Cléo vai para o Rio de Janeiro com seu filho, já que havia esperança de que conseguisse estrear seu filme nos cinemas cariocas. Péssima hora afinal naquele momento estourava a Revolução de 32.
Cléo e seu filho nunca conseguiram mais ver Laes já que morreu em sua terra Natal em 1935, já sem vontade de viver.
Cléo se casou novamente com um chileno, mas nunca mais retornou as telas de cinema e abandonou de vez a vida artística.
Ela morreu aos 63 anos deixando um legado e uma abertura para as mulheres brasileiras que foi e ainda é imprescindível. Infelizmente ela nunca é mencionada e isso me faz sentir completamente ultrajada.
Cleó de Verberena era uma mulher muito a frente ao seu tempo e isso muitas vezes é visto como uma ameaça.
Grande atriz, impecável diretora e uma mulher que foi um exemplo a se seguir.É assim que espero que todos se lembrem da maravilhosa Cléo de Verberena e de sua contribuição para todas as mulheres brasileiras.







6 comentários:

  1. Jacira Martins da Silveira era irma de minha avo' paterna.

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    1. Nossa, sério? Que demais! É tão difícil achar informações sobre ela e você acabou achando o meu post, que legal! Se você puder compartilhar mais algumas coisas sobre ela, eu ficaria muito grata, fiquei fascinada pela vida dela e o caminho que ela trilhou como mulher no cinema brasileiro.
      Fico muito feliz de saber disso! Obrigada :)

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  2. Oi Gabriella, tudo bem?
    Sou jornalista e estou fazendo uma matéria sobre mulheres inovadoras, incluindo a história da Cléo. Adorei seu texto! Gostaria saber que fontes você usou para que eu possa dar os devidos créditos (inclusive para você).

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    1. Olá, Fernanda, desculpa a demora.
      Eu perdi a senha do meu e-mail e acabei não conseguindo mais acessar o blog!
      Já está tarde, eu sei, mas consegui tudo pela memoriabn.com.br e pesquisando em acervos de cinema brasileiro.
      O link é: http://memoria.bn.br

      Obrigada e desculpa mesmo!
      Espero que tenha conseguido fazer a sua matéria!

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  3. Olá, Gabriella.
    Sou neto de Jacyra. Meu pai se chamava Cesar Augusto Melani. Não conheci meu avô. Parabéns pela iniciativa e elaboração do texto.
    Abraço,
    Ricardo Melani.

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    1. Oi, Ricardo, muito obrigada por ler o meu texto. A história de Cléo, sua avó, é fascinante para mim! Você estaria interessado, se puder, em compartilhar um pouco sobre ela? Se sim, meu email é gzabaliego@gmail.com!

      Abraços!

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